Ao contrário do exame físico, que é basicamente descritivo, um exame psíquico é considerado mais compreensível, baseado na interação entre duas pessoas.
Durante a realização do exame psíquico procura-se colher dados necessários para traçar o perfil do estado ou funcionamento mental do paciente.
Ficou interessado em saber mais sobre o assunto? No post de hoje falaremos o que é o exame psíquico, a sua importância e quais os principais obstáculos encontrados pelo psiquiatra nessa prática. Continue a leitura!
O que é o exame psíquico?
De modo geral podemos dizer que o exame psíquico é uma ferramenta médica usada para examinar o estado mental do paciente.
Para chegar a esse resultado, ele avalia as diversas funções psíquicas e que fazem parte da súmula do exame psíquico, são eles: consciência, apresentação, atitude, atenção, orientação, humor, afeto, pensamento, sensopercepção, psicomotricidade, memória, volição, pragmatismo e crítica.
O que é a psiquiatria?
A psiquiatria é a área da medicina que envolve o estudo, o diagnóstico e o tratamento de desordens da saúde mental, que é influenciada por uma combinação dos fatores, tanto os individuais quanto aqueles relacionados às interações com a sociedade.
É muito importante procurar a ajuda desse profissional, pois os problemas de saúde mental não devem ser percebidos como as meras fraquezas que uma pessoa pode simplesmente superar.
Esses problemas precisam ser tratados o quanto antes, a fim de evitar que algo mais grave aconteça.
Dito isso, o psiquiatra é o médico que irá diagnosticar os transtornos mentais e indicar o melhor tratamento. Para se tornar um profissional qualificado, ele precisa fazer faculdade de Medicina e depois especialização em Psiquiatria.
Entre os problemas de saúde mental que os psiquiatras tratam estão: depressão, bipolaridade, perturbação da ansiedade, transtorno de personalidade, desordem de pânico, esquizofrenia e dependência química.
E para o tratamento dessas desordens, o psiquiatra pode indicar a psicoterapia ou ainda o uso de medicamentos, tais como antipsicóticos, os estabilizadores do humor e os antidepressivos.
A psicoterapia pode incluir a terapia de comportamento cognitiva, a terapia de família ou a assistência em grupo. No entanto, em casos severos, a hospitalização pode ser necessária.
Para que serve o exame psíquico?
Como já mencionamos acima, o exame psíquico serve para avaliar o estado de saúde do paciente e, então, traçar o seu perfil.
Qual a importância do exame psíquico?
O exame psíquico ou exame do estado mental é importante para conhecer a capacidade mental ativa do paciente através da avaliação de aspecto geral, comportamento, qualquer crença e percepção incomum ou bizarra (como delírios e alucinações), humor e todos os aspectos da cognição (como atenção, orientação e memória).
Sendo assim, ele deve ser realizado em qualquer indivíduo com alteração do estado mental ou comprometimento da cognição, seja agudo ou crônico.
Somente por meio do exame psíquico é possível avaliar os diferentes parâmetros da função cognitiva, sobre os quais falaremos mais adiante.
O que é a anamnese psiquiátrica?
O termo anamnese vem do grego ana (remontar) e mnesis (memória). E a anamnese psiquiátrica nada mais é do que a evocação voluntária do passado feita pelo paciente, sob a orientação de um psiquiatra.
O objetivo dessa técnica é o de avaliar o paciente, de forma que seja possível diagnosticar o seu problema e auxiliar no melhor atendimento.
Como a anamnese psiquiátrica advém de uma relação interpessoal, na qual cabe ao terapeuta não cortar o fluxo da comunicação com seu paciente, na medida do possível, faz-se necessário que um esquema completo do que perguntar esteja sempre presente em sua mente.
Outra dica é que a entrevista seja conduzida de uma maneira informal, descontraída, com termos acessíveis à compreensão do paciente, porém bem estruturada.
É importante ressaltar que, muitas vezes, não se consegue ter todo o material em uma única entrevista.
O roteiro para sua execução da anamnese psiquiátrica pode sofrer algumas poucas variações, porém na estrutura básica constam: a identificação do paciente, o motivo da consulta ou queixa que o traz ao médico ou terapeuta, a história da doença atual, a história pessoal, a história familiar, a história patológica pregressa, um exame psíquico, uma súmula psicopatológica e uma hipótese de diagnóstico nosológico.
Como funciona a entrevista psiquiátrica?
Durante a entrevista psiquiátrica, além do conhecimento teórico, a sensibilidade e capacidade empática do médico são componentes fundamentais.
Sendo assim, a habilidade de entrevistar não é simplesmente uma questão de ser gentil com os pacientes ou de aceitar suas características e considerar as aflições psicossociais.
A comunicação entre o médico e o paciente é praticamente a única ferramenta para o diagnóstico de problemas psiquiátricos. Por isso, a postura do psiquiatra deve ser de suporte e compreensão, garantindo ao paciente um ambiente seguro.
Num primeiro momento, é importante deixar o paciente falar livremente, expondo sua queixa, enquanto já se avalia seu psiquismo.
Depois, o médico deve procurar saber mais detalhes e esclarecer pontos que tenham ficado obscuros. É importante ressaltar que as perguntas devem ser no início de caráter mais geral, aprofundando-se conforme a entrevista progride.
Contudo, as perguntas mais dirigidas devem ser preferencialmente feitas de modo confirmatório, evitando a indução de respostas.
Uma vez realizada a entrevista psiquiátrica e formuladas as hipóteses diagnósticas, deve-se expô-las de forma clara ao paciente, com a conduta a ser tomada para o tratamento.
Manejo do tempo, setting e anotações
O psiquiatra, durante a entrevista psiquiátrica, precisa manejar o tempo, setting e anotações.
De modo geral, o tempo utilizado para entrevista costuma variar muito, não apenas de acordo com o local da entrevista, mas também com a dificuldade em estabelecer as hipóteses diagnósticas e o plano terapêutico.
Além disso, outra preocupação do psiquiatra deve ser com o setting da entrevista, isto é, do ambiente físico e emocional onde é realizada a avaliação. É de fundamental importância a privacidade do local, pois permite ao paciente maior tranquilidade para revelar sentimentos mais íntimos.
Sempre que possível, é importante entrevistar o paciente a sós, mesmo quando acompanhado por familiares íntimos, solicitando que estes retornem à sala para acrescentar informações que se façam necessárias.
Quanto às anotações, é indicado que o entrevistador não faça apontamentos prolongados durante a avaliação, pois poderá comprometer a relação com o paciente e a observação de suas reações.
Contudo, é fundamental o relato completo da anamnese e das condutas tomadas em documento adequado ao final da entrevista para fins assistenciais e eventualmente judiciais.
Histórico psiquiátrico
Assim como uma entrevista médica, a entrevista psiquiátrica deve seguir as mesmas orientações.
Ou seja, com a apresentação do entrevistador (nome, função e objetivo da abordagem) e a identificação do paciente (nome, idade, proveniência, ocupação, situação conjugal e religião) com o relato ou a queixa principal, isto é, o motivo pelo qual procura ajuda.
Feito isso, a entrevista deverá caminhar naturalmente para a história da doença atual, caracterizando o início dos sintomas, apresentação, periodicidade e possíveis tratamentos medicamentosos ou internações prévias.
Para se chegar a esse resultado, é de fundamental importância a caracterização dos antecedentes biográficos, como seu comportamento durante a infância e a adolescência, história ocupacional e conjugal, padrão de relacionamentos interpessoais e características de personalidade pré-mórbida.
Também devem ser abordados os antecedentes pessoais clínicos (doenças de base, traumatismos, cirurgias), bem como os hábitos (em especial uso de drogas).
E por último, a história familiar deve ser investigada, com ênfase na presença de doenças psiquiátricas e dependência de drogas entre os parentes.
Situações de entrevista
A entrevista psiquiátrica pode ser dificultada por inúmeros motivos, dentre eles a não colaboração do paciente ou a sua dificuldade de prestar informações.
Nesses casos, é importante contar com o auxílio de um informante, que será o responsável pelo fornecimento de detalhes no que alguns autores denominam história objetiva, em contraponto à história subjetiva, contada pelo paciente.
Existem ainda dois outros aspectos potencialmente complicadores da entrevista psiquiátrica que devem ser considerados: a dissimulação e a simulação.
A dissimulação ocorre quando algum sintoma questionado é negado, apesar de sua existência. Já na simulação ocorre o contrário, pois o paciente procura relatar sintomas que, de fato, não existem.
Por fim, ressaltam-se os cuidados diante de pacientes potencialmente agressivos ou com ideação suicida.
No primeiro caso, o paciente deverá ser medicado ou mesmo contido fisicamente até mostrar-se mais calmo. Já nos casos de pacientes potencialmente suicidas, deve-se cuidar para que a entrevista se dê em ambiente seguro.
O que é avaliado no exame psíquico?
Agora que já falamos sobre como deve ser a anamnese e a entrevista psiquiátrica, chegou a hora de esclarecermos como o paciente é avaliado durante o exame psíquico. Entre os diferentes parâmetros da função cognitiva analisados estão:
Apresentação
A apresentação corresponde à impressão que o paciente causa no profissional, ou seja, a descrição física do paciente e a forma como ele se apresenta na consulta.
Aqui, é importante descrever não somente a sua aparência, as condições de higiene pessoal, adequação do vestuário e cuidados pessoais, como também:
- Atividade psicomotora e comportamento: atitudes e movimentos expressivos da fisionomia, gesticulação, a capacidade motora e modo de caminhar;
- Atitude para com o entrevistador: cooperativo, submisso, arrogante, desconfiado, apático, superior, irritado, indiferente, hostil ou bem-humorado.
Consciência
A consciência diz respeito à capacidade do indivíduo de dar conta do que está ocorrendo dentro e fora de si mesmo.
Na prática, a consciência se revela na sustentação, coerência e pertinência das respostas dadas ao entrevistador.
E cabe ao médico avaliar o grau de alteração da consciência, observando se o paciente faz esforço para manter o diálogo e levar a entrevista, se a confusão mental interfere na exatidão das respostas ou se o paciente chega até mesmo a adormecer no curso da entrevista.
Algumas correntes psiquiátricas dividem a avaliação da consciência em dois eixos principais: o vertical e o horizontal.
- Eixo vertical: diretamente ligado ao status neurológico em que o paciente pode estar vigil, sonolento, em estupor ou em coma.
- Eixo horizontal: relacionado ao campo vivencial do paciente, que pode estar alargado, estreitado ou normal.
Atenção e concentração
A atenção e concentração é um processo psíquico que concentra a atividade mental sobre determinado ponto, traduzindo um esforço mental.
Destaca-se aqui a vigilância (consciência sem foco, difusa e com atenção em tudo ao redor) e a tenacidade (capacidade de se concentrar num foco). Um único paciente não pode ter essas duas funções concomitantemente exaltadas.
Orientação
A orientação é dividida em duas análises, sendo elas:
- Autopsíquica: o paciente consegue se identificar (nome, idade, profissão, familiares, entre outros).
- Alopsíquica: o paciente sabe identificar dados fora do eu, que são temporal (dia, mês, ano em que está; em que parte do dia se localiza), espacial (a espécie de lugar em que se encontra, para que serve; a cidade onde está; como chegou ao consultório) ou somatopsíquica (alterações do esquema corporal, como, por exemplo, os membros fantasmas dos amputados e a negação de uma paralisia).
Memória
A memória é o elo temporal da vida psíquica (passado, presente, futuro). Ela é avaliada em cinco critérios, sendo eles:
- Percepção: forma como o sujeito percebe os fatos e atitudes em seu cotidiano e os reconhece psiquicamente;
- Fixação: capacidade de gravar imagens na memória;
- Conservação: refere-se tudo que o sujeito guarda para o resto da vida;
- Evocação: atualização dos dados fixados;
- Reconhecimento: é o momento em que fica mais difícil detectar onde e quando determinado fato aconteceu no tempo e no espaço).
Pensamento
A análise do pensamento é feita com base em três critérios. São eles:
- Curso: nada mais é do que a velocidade de pensamento do paciente, que pode estar lentificado, normal ou acelerado.
- Forma: é a maneira como o conteúdo do pensamento é expresso, ou seja, como as frases e ideias se conectam no discurso.
- Conteúdo: avalia a ideia, isto é, o tema do discurso do paciente. As perturbações no conteúdo do pensamento estão associadas a determinadas alterações, como as obsessões, hipocondrias, fobias e especialmente os delírios.
Linguagem
Podemos dizer que a linguagem é a forma mais importante de expressão da comunicação e a linguagem verbal é a mais utilizada entre os indivíduos.
Para o médico, o que interessa é o exame da linguagem falada e escrita. Sua normalidade e alterações estão intimamente relacionadas ao estudo do pensamento, pois é pela linguagem que ele passa ao exterior.
Sensopercepção
A sensopercepção avalia se o paciente tem alterações do sistema sensório, ou seja, é o atributo psíquico no qual o indivíduo reflete subjetivamente a realidade objetiva.
Neste critério, o paciente pode apresentar alucinações visuais, auditivas, olfativas, gustativas e/ou táteis.
Juízo e crítica
No que diz respeito ao juízo e crítica, podemos dizer que neste ponto avalia-se o quanto o paciente conhece sua real situação de saúde mental.
Sendo assim, o indivíduo pode apresentar-se com crítica preservada ou prejudicada.
Afeto e humor
O afeto é avaliado a partir da análise das emoções do indivíduo em relação a sua fala e aos estímulos externos.
De modo geral, ele é analisado com base em três critérios:
- Congruência: avalia se a emoção expressa está congruente com o conteúdo da fala do paciente;
- Modulação: corresponde à capacidade que o indivíduo tem de oscilar/modular suas emoções;
- Ressonância: é a capacidade que o indivíduo tem de reagir de acordo com o estímulo externo.
Já o humor é mais superficial e variável do que a afetividade. É o que se pode observar com mais facilidade numa entrevista.
Os tipos de humor dividem-se em: normal, exaltado, baixa de humor e quebra súbita da tonalidade do humor durante a entrevista.
Volição, impulso e prospecção
Quando falamos em volição estamos ressaltando a vontade que o indivíduo tem de viver, realizar suas ambições e concluir seus projetos. Neste ponto, o paciente pode apresentar volição normal, hiperbulia ou hipobulia.
Psicomotricidade
No quesito psicomotricidade, o paciente é avaliado no decorrer da entrevista conforme seu padrão de comportamento corpóreo.
Podemos considerar como alterações da psicomotricidade: hipocinesia, hipercinesia, frangofilia, tiques, estereotipias e maneirismos.
Ou seja, averigua-se se está normal, diminuída, inibida, agitada ou exaltada. E se o paciente apresenta maneirismos, estereotipias posturais, automatismos, flexibilidade cérea, ecopraxia ou qualquer outra alteração.
Inteligência
A inteligência é o conjunto de habilidades cognitivas resultante dos diferentes processos intelectivos. Isso inclui: raciocínio, planejamento, resolução de problemas, pensamento abstrato, compreensão de idéias complexas, aprendizagem rápida e aprendizagem a partir da experiência.
A avaliação da inteligência é mais para se constatar se o paciente está dentro do chamado padrão de normalidade. Aqui, interessa a autonomia que o paciente tenha, a sua capacidade laborativa.
Conclusão
Ao longo do texto falamos bastante sobre o exame psíquico e a sua importância para determinar o estado de saúde mental do paciente.
São inúmeras as variáveis que devem ser levadas em conta, as quais foram explicitadas acima.
E somente um profissional especialista no assunto é capaz de conduzir a entrevista com um indivíduo, a fim de diagnosticar se o mesmo apresenta algum transtorno e, então, indicar o melhor tratamento.
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