O estudo demografia médica 2018 foi coordenado por Mário Scheffer, do departamento de Medicina Preventiva da USP, em associação com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo e o Conselho Federal de Medicina.
Apesar de já ter dois anos, o estudo tem um caráter observacional transversal (ecológico). Os dados foram obtidos por meio de “linkage” com referências de órgãos reconhecidamente respeitados na comunidade médica.
O objetivo do estudo é apresentar um retrato da realidade da prática médica no país. Alguns pontos do texto original merecem destaque. Nesse post, reunimos os “highligths” para enfatizar alguns trechos que consideramos importantes para o amplo conhecimento pela comunidade médica.
Alguns trechos desse post foram extraídos na íntegra do texto original e os autores do estudo “Demografia Médica” merecem o nosso reconhecimento pelo belíssimo trabalho. Então, vamos resumir alguns pontos relevantes de forma objetiva.
Com relação ao número de médicos no país:
Em janeiro de 2018, o Brasil tinha 452.801 médicos, o que correspondia à razão de 2,18 médicos por mil habitantes. Hoje, já somos mais de 500 mil médicos no país. Esse número está de acordo com extrapolações de dados feito pelo estudo em discussão.
Iniciativas como a política do programa Mais Médicos de 2013 contribuíram para o aumento do número de médicos. A lei permitiu iniciativas como a entrada de médicos estrangeiros, a abertura de várias novas faculdades de Medicina, além da expansão de residências médicas e mudanças curriculares para a formação de novos profissionais de saúde.
Observe a evolução do número absoluto de médicos na tabela abaixo:
*No período de 97 anos (1920-2017) o número de médicos cresceu 3,7 vezes mais que o da população.
Observe as taxas de crescimento da população brasileira comparada com o número de médicos e a relação entre ambas no gráfico abaixo:
*Em períodos de cinco anos, a taxa de crescimento do número de médicos é, no mínimo, duas vezes a da população. Com isso, percebe-se um aumento constante na razão médico/habitante.
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Neste gráfico, observamos o crescimento do número de registros médicos por ano de referência:
*De acordo com a série histórica observada, no gráfico acima, pode-se concluir que, dos 414.831 médicos em atividade em 2017, 53,3% – mais da metade deles – entraram no mercado de trabalho depois do ano 2000.
Com relação ao perfil dos médicos:
O estudo reflete uma tendência interessante com relação ao perfil dos médicos brasileiros: a feminização da Medicina. Porém, isso também vem acompanhado da desigualdade de renda entre os gêneros. Assim como observado em diversos setores profissionais da sociedade brasileira. Esse fenômeno de desigualdade na remuneração também é observado comparativamente entre especialidades diferentes.
A média de idade dos médicos também está em queda. Observa-se um aumento do número de médicos com idade inferior a 35 anos. Hoje, 45 anos é a média de idade do médico em atividade no Brasil. A maioria desses profissionais são formados após o ano 2000.
Além disso, essa nova geração de médicos valoriza mais o equilíbrio entre trabalho e lazer, assim como a flexibilização de jornadas.
O gráfico abaixo mostra a tendência da feminização da Medicina. Fato marcante entre os médicos mais jovens.
*Nesse gráfico percebemos a tendência ao juvenescimento e feminização da Medicina.
Com relação a titulação dos médicos, observa-se que a proporção de especialistas é maior que a de generalistas.
Políticas de incentivo à abertura de novas vagas de residência são um dos fatores que contribuem para esse fato. Apesar disso, aproximadamente 40% das vagas de residência se mantêm ociosas no país.
O estudo observou que mais de 80% dos egressos de Medicina pretendem fazer residência médica. Especialidades como Pediatria, Clínica Médica, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Anestesiologia somam aproximadamente 45% do total de especialistas. As mesmas especialidades são a preferência de 48,3% dos recém-formados
O gráfico abaixo mostra a distribuição dos residentes por regiões do país:
Nesse gráfico abaixo, está o número absoluto de médicos com e sem especialidade.
*Observa-se que a maioria dos médicos tem, pelo menos uma especialidade
Com relação a distribuição dos médicos no território nacional:
A desigualdade na distribuição dos médicos é marcante no território nacional. Observa-se que a maioria dos profissionais estão concentrados nas capitais.
As áreas com baixas densidades populacionais sofrem com a falta de assistência médica, assim como determinados serviços públicos.
Atualmente, a média do Brasil é de 2,18 médicos por mil habitantes. Porém, contrastes regionais importantes são evidenciados. Por exemplo, Vitória (ES) tem uma média de 12 médicos por mil habitantes, contrastando com regiões do interior do nordeste com menos de 1 médico por mil habitantes.
A razão média das capitais brasileiras é de 5,07 médicos por mil habitantes. No interior, a razão corresponde a 1,28.
O Sudeste é a região com maior densidade médica por habitante, razão de 2,81, contra 1,16 no Norte e 1,41 no Nordeste.
Observe a relação médico/mil habitantes no gráfico abaixo:
Nos gráficos a seguir, observamos a disparidade entre capitais e interior. Fato evidenciado pela disparidade na relação do números de médicos/mil habitantes entre essas localidades:
Remuneração:
Esse aspecto do estudo é interessante. O médico se sente mais confortável em receber um salário. A remuneração por salário mensal é a modalidade preferida pela maioria dos entrevistados do estudo. A modalidade mista (autônomo + salário mensal) aparece em segundo lugar.
A remuneração por performance é a modalidade de trabalho menos interessante para os entrevistados. O contra senso nisso é que existe uma tendência global em se remunerar por performance “value based”. Porém, pelo visto, isso gera desconforto ao médico. Principalmente, pela cultura já instalada do “fee for service ou fee for quality” em que se remunera por procedimento, atendimento ou de acordo com a qualificação profissional.
Por que escolhi a Medicina?
Essa pergunta foi realizada no estudo “Demografia Médica”. O interessante é que apesar do capitalismo e consumismo marcantes da modernidade, ideais altruístas permanecem como a principal razão de escolha do curso. “Pela vontade de fazer diferença na vida das pessoas ou fazer o bem” foi a resposta de 63,5% dos recém-formados.
“O interesse pelo estudo do organismo humano e das doenças” foi a escolha de 54% dos entrevistados.
“O interesse pelos ganhos financeiros da profissão aparece em quinto lugar, citado por 28,2% como uma das motivações da escolha”.
Observe esses dados no gráfico abaixo:
Para concluir esse post: é importante compreender o retrato do momento na Medicina para guiar os próximos passos. O estudo traz um panorama bem completo do médico brasileiro.
Acreditamos que existe um mismatch entre oportunidades e médicos. Isso, com certeza contribui para acentuar a desigualdade na distribuição dos profissionais no país.
Por isso, promover a conexão entre profissionais de saúde e oportunidades é importante, ganha a sociedade e ganha o médico que amplia as suas fronteiras de trabalho. A tecnologia está ao nosso favor, acreditamos nisso.
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